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Monday, December 3, 2012

"Este Natal Não Será O Mesmo"

     Este Natal embora se vista de luz e cor, como sempre, para mim já não tem o mesmo brilho. Apagou-se a luzinha que nos guiava nestes dias lembrados. Na véspera de Natal fazia as voltas mais cedo para não faltar a grande abertura dos presentes. Nunca se cansava de recordar Natais mais pobrezinhos passados la na terra para que os netos pudessem um dia contar aos seus. "Era-mos pobres, mas havia mais alegria," dizia ele. Ao abrir as suas ofertas agradecia sempre com uma humildade rara. Todos já sabiam que bastava uma camisa de flanela para fazer este pai e avó de novo uma criança. Aos pés deste simples lavrador aprendi o gosto pelo Natal e pela união de família. Pelo menos naquele dia era obrigatório manter tudo em paz se não... Antes de todos regresarem a suas casas era anunciado em voz alta "já sabem que amanha e aqui."
        
     No dia de Natal vestia-se a rigor e pois sentava-se la no seu lugarinho a espera dos que iam chegando. A mesa tinha sempre lugar para mais um e comida não faltava. A sua Maria levava uma semana a cozinhar para que ninguém pasasse fome naquele dia. Muitas das historias que guardo hoje foram aprendidas a volta daquela mesa. Falava-se, ria-se, e por vezes chorava-se naquele dia por que ali eram recordados os que já não estavam e por outras recontava-se a viajem do ano passado aos Açores. Os Cabrais e o Americo não ficavam atrás por que tinham sido grandes amigos e o Senhor Miguel por que se tinha perdido quando veio passar uma temporada na Costa Leste com familiares. A ida do Antonio Cavalhinha aos Açores mais a sua Helena era apresentada quase como tipo de uma rádio novela com o meu avó na apresentação e como voz principal.
        
     Com o crescer dos netos e a passagem dos anos os Natais foram se transformando num ponto de encontro ali e naquele dia. Os ramos familiares foram brotando para outros lados, o Natal na casa do avó já sofria as suas alterações. As historias eram contadas embora já nem todos as entendessem. O constante era a presença daquele homem que todos respeitavam. Havia sempre uma volta para fazer embora a vontade do enviado fosse pouca. Assim foram correndo os anos e os Natais ate que um dia tudo se transformou.  
 
      Anos mais tarde os Natais passaram para casa da sua filha para onde o Manuel e a sua Maria foram morar. Embora os passos já fossem mais lentos, a vontade de estar em família nunca o abandonou. Agora com os bisnetos a sua volta as saudades de outros natais aumentavam cada vez mais. Agora os netos vinham, já com os seus filhos, de perto e de longe para não perderem os bons momentos ali passados. Ate o Pai Natal um ano fez questão de bater a porta e entrar por que, dizia ele, o Manuel Cabral tinha sido bonzinho nesse ano. O velhinho, já cansado, estava ali noite dentro ate todos se terem ido embora. Quando recebia mais uma das tais camisas de flanela dizia minha avó, "ele nunca mais gasta as que tem ai para dentro." Ficava sempre grato ao criador pela abundcia que ihle tinha parado esta América.
       
      Nos últimos anos alguns dos ramos já tinham partido para os seus destinos. Ele sabia que os que estavam mais longe iriam chamar naquele dia e então perguntava, "eles já chamaram?" La dava uma palavrinha ao telefone com o tal soluço na garganta. Acabava sempre por perguntar,"quando e que vocês vem?" Agora ocupava o lugar que a sua querida mãe tinha ocupado noutro tempo e noutro lugar. Pois ela também vio os mais novos partirem para terras distantes com a promessa de voltarem  um dia. Os natais para ele nunca perderam o brilho embora que os anos tevesem passado na corrida.
     No ultimo Natal, já numa cama do hospital não se esqueceu dos que estavam longe. Ainda guardo um lindo cartão me enviou naquele Natal com desejos de boas festas e felicidades na vida. Pensei naquela altura, será que e mesmo a despedida?  Em Janeiro partiu para estar ao lado da sua mãezinha que tanto adorava. Este Natal e os que estão para vir jamais serão iguais por que ele já não esta entre nos. Deixou-nos tantas lembranças  e o seu lugar vazio a nossa mesa, ate a volta grande amigo!!! 

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