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Saturday, May 25, 2013

“Já Tinha Tantas Saudades”


  Já Tinha Tantas Saudades

Já tinha saudades de velhos amigos que a tanto não via. Esta boa gente que me vio partir pequenino e crescendo no regresso, nunca me saiu do coração. Partilharam sua simplicidade e souberam ser amigos na chegada e na partida. O regresso foi sempre mais doce do que a partida embora ficasse sempre a promessa de voltar no próximo Verão. Por muito pobres que fossem sempre partilhavam velhas historias rodeadas de amizade com uma doze de carinho. Esta gente para qual a Fé sempre teve um lugar de relevo em suas vidas ainda hoje fazem parte do homem que sou.
 Muito recentemente fiz questão de passar um dia a matar saudades na minha velha freguesia da Ribeira do Nabo em São Jorge. Ao chegar encontrei algumas casinhas já caídas onde outra hora teriam vivido famílias cujo os nomes somente ficaram gravados nas memorias de alguns mais antigos. O silvado tomou conta das hortas e agora vai derrubando as pedras de lava que outra hora abrigaram famílias inteiras do frio e do vento que soprava la fora. Tantos foram os que fecharam aquela simples porta para nunca mais voltarem de outras terras e doutros lugares la longe nas Américas e Canada.

Ao passar a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação fui encontrar o Sr. Lino Chaves no seu passeio habitual de principio de semana. Ao cumprimentar este velho amigo deparei logo os anos e os desgostos já pesados nos seus olhos. Contou-me que já tinha um para la bem novo e depois foi a mulher que faleceu inesperadamente. Fiquei ali com este amigo por algums momentos a procura de umas palavras de conforto que não chegavam. Já não se lembrava que eu um dia tinha passado por sua casa ainda pequeno e com vergonha não tinha dado o bom dia. Recordei que ele me tinha chamado a contas dizendo, “quando se passa por esta casa da-se o bom dia.” A partir desse dia e sempre que passava ao Armazém pensei no conselho que este amigo me tinha dado a tanto ano. Fui com ele ate ao seu destino e depois na despedida dizia ele, “gostei de te ver.” Estas palavras ficaram no ar um pouco: só depois e que percebi bem que estas tinham de ficar gravadas para mais tarde. Estes velhinhos estão desaparecendo aos poucos, e pena.

Fui mais adiante ate casa da Maria de Melo por que uma visita a São Jorge tem paragem obrigatória em casa do José da Silva. Embora ele tenha falecido a largos anos sua esposa sempre nos abriu aquela portinha que fica la ao fundo da canada a seguir a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação. Fui encontrar a minha tia mais abaixo de casa sentada no muro a matar uma saudade. Não me conheceu de entrada mas depois vinheram os abraços e o riso que sempre a marcou ao longo dos anos. Ali recontamos as velhas historias a mistura com uma lágrima de vez em quando. Perguntou por todos e quis ter a certeza que eu transmitisse que não se tinha esquecido deles. Hoje com uma idade já muito avançada sobram ile somente saudades de outros tempos e dos seus que já não se encontram entre nos. Guardarei estes momentos como relíquias e voltarei a contar estas historias aos mais novos que de certo não terão oportunidade de conhecer esta grande amiga de tantos regressos a terra que tanto adoro. Um dia que ela não estiver ali ficaremos todos um pouco mais pobres por isso.


 A pequena ermida de Nossa Senhora da Encarnação fica mesmo em frente a Sociedade abaixo do caminho. Hoje a missa e celebrada aos Sábados e com casa cheia muitas vezes, o que agrada os fieis desta localidade. Sua festa e celebrada sempre no ultimo Domingo de Agosto no recinto anexo a igreja, pois foi ali que um dia conheci a minha companheira numa tarde de toiros. O balcão do Cardoso foi onde demos a mão pela primeira vez. Estou me lembrando do lendário Padre Brasil que foi um grande amigo desta gente que ainda o recordam com saudade. Sempre um homem discreto e do povo, dizia: “Aqui dentro sou padre, la fora sou igual a vocês.” Os filhos que um dia se despediram da Senhora voltam sempre que podem para pagar suas promessas ou para celebrar uma missa por alma de quem já partiu. Sempre que volto a ilha faço questão de ou menos passar ali para admirar seu sino e reviver um passado do qual restam apenas recordações. 
Entre tantas casas velhinhas já encontramos uma o outra nova com gente de outros lugares. Ainda bem que alguém ainda se lembra escolher este lugarinho para plantar suas raízes. As terras já mostram sinais de serem trabalhadas como foram outra hora. O meu avó bem dizia que já não ia ser para si, mas sim para os seus netos. Embora os tempos sejam outros o ser humano quais sempre volta as raízes quando as condições o obrigam a fazer-lo. 
 Ao passar a casa que outra hora foi do meu avó senti uma tristeza por ver esta quais caída. Aquela casinha onde vivi e brinquei ate partir para longe com meus pais e meu irmão há muito que passou para o nosso livro de memorias. Ali ficávamos no regresso e recebíamos visitas de vizinhos e amigos que há muito não víamos. O primeira visita era sempre ali entre noite e dia quando o vizinho Nelso batia a porta para dar as boas vindas aos velhos amigos que tinham chegado. Este tinha sempre um riso alegre para partilhar com todos ali presentes. Sempre perguntava pelo meu avó e quando e que vinha cá para irem aos sargos. Hoje embora já velhinho, tem sempre uma graça para contar que ainda nos faz rir. Este grande amigo do meu avó e mais outros que já nos deixaram são recordações de um passado que guardo bem perto de mim. Esta gente que tanto lutou para chegar aos nossos dias são uma mais valia para os novos que não viveram esses tempos difíceis. Ao saltar para a carreira naquele dia senti uma lágrima teimosa por saber que jamais veria alguns destes amigos no regresso


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