Já tinha saudades de velhos amigos que a tanto
não via. Esta boa gente que me vio partir pequenino e crescendo no regresso,
nunca me saiu do coração. Partilharam sua simplicidade e souberam ser amigos na
chegada e na partida. O regresso foi sempre mais doce do que a partida embora
ficasse sempre a promessa de voltar no próximo Verão. Por muito pobres que
fossem sempre partilhavam velhas historias rodeadas de amizade com uma doze de
carinho. Esta gente para qual a Fé sempre teve um lugar de relevo em suas vidas
ainda hoje fazem parte do homem que sou.
Muito
recentemente fiz questão de passar um dia a matar saudades na minha velha
freguesia da Ribeira do Nabo em São Jorge. Ao chegar encontrei algumas casinhas
já caídas onde outra hora teriam vivido famílias cujo os nomes somente ficaram
gravados nas memorias de alguns mais antigos. O silvado tomou conta das hortas
e agora vai derrubando as pedras de lava que outra hora abrigaram famílias
inteiras do frio e do vento que soprava la fora. Tantos foram os que fecharam aquela
simples porta para nunca mais voltarem de outras terras e doutros lugares la
longe nas Américas e Canada.
A pequena
ermida de Nossa Senhora da Encarnação fica mesmo em frente a Sociedade abaixo
do caminho. Hoje a missa e celebrada aos Sábados e com casa cheia muitas vezes,
o que agrada os fieis desta localidade. Sua festa e celebrada sempre no ultimo
Domingo de Agosto no recinto anexo a igreja, pois foi ali que um dia conheci a
minha companheira numa tarde de toiros. O balcão do Cardoso foi onde demos a
mão pela primeira vez. Estou me lembrando do lendário Padre Brasil que foi um
grande amigo desta gente que ainda o recordam com saudade. Sempre um homem
discreto e do povo, dizia: “Aqui dentro sou padre, la fora sou igual a vocês.” Os
filhos que um dia se despediram da Senhora voltam sempre que podem para pagar
suas promessas ou para celebrar uma missa por alma de quem já partiu. Sempre
que volto a ilha faço questão de ou menos passar ali para admirar seu sino e
reviver um passado do qual restam apenas recordações.
Entre tantas
casas velhinhas já encontramos uma o outra nova com gente de outros lugares.
Ainda bem que alguém ainda se lembra escolher este lugarinho para plantar suas
raízes. As terras já mostram sinais de serem trabalhadas como foram outra hora.
O meu avó bem dizia que já não ia ser para si, mas sim para os seus netos.
Embora os tempos sejam outros o ser humano quais sempre volta as raízes quando
as condições o obrigam a fazer-lo.
Ao passar a
casa que outra hora foi do meu avó senti uma tristeza por ver esta quais caída.
Aquela casinha onde vivi e brinquei ate partir para longe com meus pais e meu
irmão há muito que passou para o nosso livro de memorias. Ali ficávamos no
regresso e recebíamos visitas de vizinhos e amigos que há muito não víamos. O
primeira visita era sempre ali entre noite e dia quando o vizinho Nelso batia a
porta para dar as boas vindas aos velhos amigos que tinham chegado. Este tinha
sempre um riso alegre para partilhar com todos ali presentes. Sempre perguntava
pelo meu avó e quando e que vinha cá para irem aos sargos. Hoje embora já
velhinho, tem sempre uma graça para contar que ainda nos faz rir. Este grande
amigo do meu avó e mais outros que já nos deixaram são recordações de um
passado que guardo bem perto de mim. Esta gente que tanto lutou para chegar aos
nossos dias são uma mais valia para os novos que não viveram esses tempos
difíceis. Ao saltar para a carreira naquele dia senti uma lágrima teimosa por
saber que jamais veria alguns destes amigos no regresso…
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