Pages

Tuesday, April 10, 2012


 

"Quarenta Anos E Uma Saudade"


Antigo Navio Ponta Delgada
Parece ter sido outro dia que mais quarto almas partiram do seu torrão para terras distantes e uma nova vida. Como tantos outros, ao ouvir o apito do barco no cais chegou a hora de dizer adeus ate um dia. Pra trás ficou a ilha e uma velhinha  a chorar o filho e os netos ainda pequenos que de certo teriam vida melhor la longe. O velho cais parecia cada vez mais pequeno a distancia e a ansiedade aumentava com o passar das horas. Assim foram os primeiros passos desta pequena família rumo aos EstadosUnidos.
 Não e fácil chegar a terra estranha com pouco mais do que uma mala e o sonho de vencer. Os olhos tornam-se grandes ao ver o movimento das grandes cidades numa língua estrangeira que nem entendemos. Só agora e que posso perceber a grande ansiedade dos meus pais no momento da chegada a uma terra da qual pouco tinham conhecimento. Sabia-mos apenas que os meus avos nos esperavam e que os primos nos iam buscar ao aeroporto. Muito devemos a tia Elvira Azevedo, suas filhas Lucia, Maria, Rosa e suas famílias por  tanto que fizeram por nos naqueles primeiros tempos. Aos meus avos tenho de agradecer a carta de chamada que nos ofertou um melhor futuro aqui nos Estados Unidos e todo apoio que nos deram ao longo dos anos.
  Muitos destes velhinhos embora tenham partido para eternidade, deixaram sua marca naqueles que atrás ficaram. Ainda me recorda das matanças de porco em casa do meu avó naqueles primeiros anos. Sempre vinha o tio António, irmão do meu avó e amigo de todos, assistir as festividades naquele dia. Ele apesar de já estar velhinho tinha uma energia tremenda para cantar e contar historias de outros tempos. A Tia Elvira e a Lucia também não faltavam a matanca em casa do Manuel, era um dia de festa quando os irmãos e suas famílias se juntavam. 
 Naqueles tempos as saudades da terra ainda estavam muito frescas no coração daqueles que partiam. No tempo a net ainda não tinha chegado ao nosso meio, esperava-se por uma carta com as notícias mais recentes da família e amigos la longe na ilha. Em contra partida, as velhinhas do lado de la também esperavam a tal carta da América com algumas dólares que davam para comprar pão e café. Pois a vida por la também era bem dura no tempo. Isso não quer dizer que a vida por Ca fosse a mais fácil. 
Costa De Sao Jorge
Apesar de todas as dificuldades o regresso nunca estava muito longe do pensar dos meus pais. Ao fim de um ano o meu pai voltou acompanhado do meu tio Emídio que a mais anos não via a terra. Como tantos, o meu tio foi essa vez e não voltou mais a terra que o vio nascer. Com o passar do tempo chegou a hora de nos voltarmos a São Jorge pela primeira vez ao fim de quatro anos. Como e que estariam os que tinha-mos deixado para trás naquela manha de Abril? 
 Com o passar dos anos as velhinhas tinham avagado o passo e os amigos já tinham mais alguns cabelos brancos. Foi a primeira vez que me recordo de beber café em casa da Bis Avo Isabel moído pela mão dela. O moinho começava a trabalhar cedo da manha e não parava ate que a ultima visita se fosse embora. A minha avo Fernanda estava feliz da vida por ter o filho e os netos de volta embora sabendo que os dias estivessem contados. Naquela modesta casinha, no lugar do Caminho De Cima, se-receberam inúmeras visitas das Américas ao longo de tantos anos que elas ali viveram. Quando sua mãe faleceu a Fernanda fechou a porta pela ultima vez e passou para a Ribeira Do Nabo ate vir a falecer mais tarde em 1992. A casinha que outra hora nos deu tanta alegria hoje esta em mãos seguras e o seu futuro promete dar continuidade a nossa historia por muitos mais anos.
 A Bis Avo Adriana estava quais sempre na sua janela quando passava-mos na presa. Ela e que me ensinou o gosto pela história e o valor que ela tem. La viveu com a filha Idalina, seu neto António Duarte e o genro Dulare ate partir para a Calheta. Viveu em casa de sua filha Ermelinda e do genro Fernando alguns anos ate vir a falecer em 1986. Desses dias passados na ilha guardo recordações do lendário tio Bruno que foi chefe da tal comissão que vos falei em artigos anteriores. Assisti-mos a sua vindima e também fomos convidados a provar uma pinga do jarro branco que ele la tinha. Também tive o prazer de conhecer o tio José Da Silva que tinha um coração de ouro e foi um grande homem de família. Os dois partiram muito cedo desta vida. 

Rumo Ao Futuro
Passadas as ferrias, la chegou o dia de o barco apitar de novo no cais e de partirmos outra vez para alem do mar.  Desta vez com a certeza de voltar em pouco tempo por que as coisas já estavam um pouco melhores. A promessa de voltar foi comprida, mas a saudade nunca se apagou nos corações de quem partiu. Penso tantas vezes que aquela primeira viagem a Portugal cimentou os laços a terra natal que seriam cada vez mais fortes. Muitos que para cá vieram não tiveram essa felicidade de conhecerem a terra dos seus pais. Agradeço a oportunidade de ter regressado as origens de vez em quando para não esquecer quem era e quem foram os meus. 

 Quando chega o Natal alguém levanta um copo e diz, “para o ano e nos Açores.” Com esta promessa de voltar feita em voz alta, entramos em mais um ano com a esperança de voltar a terra outra vez. Nestes quarenta anos de América as oportunidades tem sido muitas e a vida tem sido generosa para esta pequena família que partiu um dia daquele pequeno cais la longe no meio do mar…. 

No comments:

Post a Comment