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Friday, August 5, 2011

Fernando Farinha


Fernando Farinha Fadista
1928-1988
Autor Isménia Neves


Fernando Farinha, de seu nome completo, Fernando Tavares Farinha, nasceu, tendo-se destacado como uma no dia 20 de Dezembro de 1928, no Barreiro

Ainda criança veio residir para Lisboa com os pais, – os tempos eram difíceis e o seu pai, barbeiro de profissão decide tentar a sorte na capital –, para uma recatada casa no bairro da Bica, onde viveu mesmo quando o sucesso fez dele uma estrela nacional.

Este miúdo que já cantava como "gente crescida" em arraiais, casamentos, baptizados, no Clube Recreativo O Marítimo, nos grupos excursionistas Os Marialvas de S. Cristóvão, Os Marialvas da Graça, Os Cinco Réis, Os Garrafinhas e Os Limpadores de Verdade, em 1935, participa pela Marcha da Bica, num concurso entre bairros e revelou-se um autêntico fenómeno no mundo da canção e do fado, ficando a partir de então conhecido como o "Miúdo da Bica".

Aos 11 anos, por morte do pai, torna-se profissional do fado (para o que foi precisa uma licença especial) e grava o seu primeiro disco com os temas Sempre Linda e Meu Destino e, três anos depois, pela mão de Fernando Santos e do empresário António Macedo, participou na revista Boa Vai Ela, no Teatro
Maria Vitória (1941), ao lado da fadista Hermínia Silva, na qual se estreou, igualmente, Laura Alves.

Depois do lançamento do seu disco e da participação na revista, as casas de fados passaram a ser o ponto de passagem deste fadista de tenra idade, que a A sua carreira teve início no Retiro da Severa, na Rua António Maria Cardoso (onde alternou com Amália Rodrigues) e actuou ainda no Solar da Alegria e no
Café Latino, Café Luso, Café Mondego, entre outros.

Estávamos nos anos quarenta, década muito rica em intérpretes do fado que o cultivaram com muita alma, projectando-o para além do seu espaço tradicional. Era a partir de Lisboa que os horizontes da cantiga se estendiam com o envio de "embaixadas" de fadistas às Ilhas, África, Espanha e Brasil,
comprovando-se cada vez mais a sua aceitação. Foi por esta altura que se imprimiu ao fado nova dinâmica com a ascensão da fadista Amália Rodrigues que o impôs nacional e internacionalmente e
também de vários cantadores, entre outros, Fernando Farinha (Miúdo da Bica), José Bugalho (Miúdo de Benfica) e Tony de Matos.

E assim, também Fernando Farinha iniciou uma série de deslocações ao estrangeiro, começando pelo Brasil, onde actuou na "Taverna Lusitana", Rádio Record e na TV Tupi de São Paulo, tornando-se um dos fadistas mais viajados, quer em digressões para as comunidades portuguesas emigrantes em locais tão diferentes como França, Bélgica, Alemanha, Argentina ou Angola, quer de norte a sul do País, tendo sido sempre muito acarinhado pelo público.

Em 1951 regressou a Portugal e começou a cantar na Adega Mesquita onde actuou durante quase onze anos.



Em 1963, Fernando Farinha estreia-se no cinema no filme autobiográfico intitulado Miúdo da Bica, de Constantino Esteves, que narra a sua vida desde miúdo em que fugia da escola para cantar o fado e onde interpreta a sua própria personagem em adulto ao lado de Leónia Mendes, Artur Ribeiro, Ruy Furtado, Rudolfo Neves, Cunha Marques e Júlia Buizel, entre outros. No ano seguinte participou na longa-metragem "Última Pega", do mesmo realizador e que conta também com o desempenho de Vicente da Câmara, dos cavaleiros José Lupi e Pedro Louceiro, do matador José Júlio e dos Forcados Amadores de Santarém e Cascais, entre outros.

Para além de cantor, Fernando Farinha, foi também compositor e letrista, não só das suas próprias canções mas também de outros fadistas que consolidaram o renome cantando letras suas, de que são exemplos: O Teu Olhar, cantado por Carlos Ramos; Lugar Vazio, interpretado por Tony de Matos e Hermínia Silva; Sem Razão (Amália); Fado Rambóia e Já Não Tens Coração (Manuel de
Almeida); A Rir e a Brincar (Argentina Santos e Natércia da Conceição), Isto é (Fernanda Maria); Estações do Amor (Mariana Silva), para além de Rosae Quero-te Mais do que à Vida que interpretadas pelas cançonetistas Maria de Lourdes Resende e Mariette Pessanha, respectivamente.


Para a Antologia do Fado ficaram, entre muitos outros, os fados que ele próprio interpretou, como a desgarrada com Alfredo Marceneiro, Antes e Depois, com letra de sua autoria e de João da Mata para o Fado Menor, A Minha Apresentação, com poema de M. Sequeira e José Duarte no Fado Franklin e Canção de Lisboa, letra de sua autoria para o Fado Amarante, criado por Estêvão Amarante em revista, e, por Vasco Santana (O Vasquinho da Anatomia) no filme com o mesmo nome, daí se lhe chamar também Fado do Estudante, para além dos Belos Tempos, Beijo Emprestado, O Tempo é Quem Manda, Aguarela Fadista, Velha Friagem, A Camélia dos Jornais, Este Mundo Não Presta, O Emigrante e Disfarces.


Sobre este ídolo que a rádio lançou, que gravou mais de cem discos e que foi presença imprescindível, nas décadas de 50 a 70 do século passado, nas Melodias de Sempre na RTP, refere o jornal "Tal&Qual" de 25 de Maio de 1984: "O Miúdo da Bica não tem mau envelhecer. Significa isso ter fastio pelo
passado? Não, pelo contrário, tenho muito orgulho nele, digo já que tenho, orgulho e saudades, mas..."  Fernando Farinha foi o que foi. Hoje, gosta de o ter sido e não tem tiques porque continua a ser fadista. "Tem uma boa voz, fininha, com tom. Canta muito bem". O elogio é simples mas é enorme vindo de quem vem: Hermínia. "Nos últimos trinta ou quarenta anos – depois do caso singular de Alfredo Marceneiro – não há decerto melhor representante masculino desse fado, genuinamente popular e inconformista, diz David Mourão-Ferreira, ilustre letrista de muitos fados. Entre essas qualidades, assinale-se outra: homem ainda novo, tem 55 anos, Fernando Farinha está prestes a comemorar as Bodas de Ouro da vida artística"


O "Rei" da rádio e da popularidade, detentor de mais de uma centena de discos, de guitarras e microfones de ouro, entre muitos outros prémios, viria a falecer no dia 12 de Fevereiro de 1988.







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