"Quarenta
Anos E Uma Saudade"
![]() |
Antigo Navio Ponta Delgada |
Não e fácil
chegar a terra estranha com pouco mais do que uma mala e o sonho de vencer. Os
olhos tornam-se grandes ao ver o movimento das grandes cidades numa língua
estrangeira que nem entendemos. Só agora e que posso perceber a grande
ansiedade dos meus pais no momento da chegada a uma terra da qual pouco tinham
conhecimento. Sabia-mos apenas que os meus avos nos esperavam e que os primos
nos iam buscar ao aeroporto. Muito devemos a tia Elvira Azevedo, suas filhas
Lucia, Maria, Rosa e suas famílias por
tanto que fizeram por nos naqueles primeiros tempos. Aos meus avos tenho
de agradecer a carta de chamada que nos ofertou um melhor futuro aqui nos
Estados Unidos e todo apoio que nos deram ao longo dos anos.
Muitos destes
velhinhos embora tenham partido para eternidade, deixaram sua marca naqueles
que atrás ficaram. Ainda me recorda das matanças de porco em casa do meu avó
naqueles primeiros anos. Sempre vinha o tio António, irmão do meu avó e amigo
de todos, assistir as festividades naquele dia. Ele apesar de já estar velhinho
tinha uma energia tremenda para cantar e contar historias de outros tempos. A
Tia Elvira e a Lucia também não faltavam a matanca em casa do Manuel, era um
dia de festa quando os irmãos e suas famílias se juntavam.
Naqueles
tempos as saudades da terra ainda estavam muito frescas no coração daqueles que
partiam. No tempo a net ainda não tinha chegado ao nosso meio, esperava-se por
uma carta com as notícias mais recentes da família e amigos la longe na ilha.
Em contra partida, as velhinhas do lado de la também esperavam a tal carta da
América com algumas dólares que davam para comprar pão e café. Pois a vida por
la também era bem dura no tempo. Isso não quer dizer que a vida por Ca fosse a
mais fácil.
Apesar de
todas as dificuldades o regresso nunca estava muito longe do pensar dos meus
pais. Ao fim de um ano o meu pai voltou acompanhado do meu tio Emídio que a
mais anos não via a terra. Como tantos, o meu tio foi essa vez e não voltou
mais a terra que o vio nascer. Com o passar do tempo chegou a hora de nos
voltarmos a São Jorge pela primeira vez ao fim de quatro anos. Como e que
estariam os que tinha-mos deixado para trás naquela manha de Abril?
Com o passar
dos anos as velhinhas tinham avagado o passo e os amigos já tinham mais alguns
cabelos brancos. Foi a primeira vez que me recordo de beber café em casa da Bis
Avo Isabel moído pela mão dela. O moinho começava a trabalhar cedo da manha e
não parava ate que a ultima visita se fosse embora. A minha avo Fernanda estava
feliz da vida por ter o filho e os netos de volta embora sabendo que os dias
estivessem contados. Naquela modesta casinha, no lugar do Caminho De Cima,
se-receberam inúmeras visitas das Américas ao longo de tantos anos que elas ali
viveram. Quando sua mãe faleceu a Fernanda fechou a porta pela ultima vez e
passou para a Ribeira Do Nabo ate vir a falecer mais tarde em 1992. A casinha
que outra hora nos deu tanta alegria hoje esta em mãos seguras e o seu futuro
promete dar continuidade a nossa historia por muitos mais anos.
A Bis Avo
Adriana estava quais sempre na sua janela quando passava-mos na presa. Ela e
que me ensinou o gosto pela história e o valor que ela tem. La viveu com a filha
Idalina, seu neto António Duarte e o genro Dulare ate partir para a Calheta.
Viveu em casa de sua filha Ermelinda e do genro Fernando alguns anos ate vir a
falecer em 1986. Desses dias passados na ilha guardo recordações do lendário
tio Bruno que foi chefe da tal comissão que vos falei em artigos anteriores.
Assisti-mos a sua vindima e também fomos convidados a provar uma pinga do jarro
branco que ele la tinha. Também tive o prazer de conhecer o tio José Da Silva
que tinha um coração de ouro e foi um grande homem de família. Os dois partiram
muito cedo desta vida.
Passadas as
ferrias, la chegou o dia de o barco apitar de novo no cais e de partirmos outra
vez para alem do mar. Desta vez com a
certeza de voltar em pouco tempo por que as coisas já estavam um pouco
melhores. A promessa de voltar foi comprida, mas a saudade nunca se apagou nos
corações de quem partiu. Penso tantas vezes que aquela primeira viagem a
Portugal cimentou os laços a terra natal que seriam cada vez mais fortes.
Muitos que para cá vieram não tiveram essa felicidade de conhecerem a terra dos
seus pais. Agradeço a oportunidade de ter regressado as origens de vez em
quando para não esquecer quem era e quem foram os meus. Quando chega o Natal alguém levanta um copo e diz, “para o ano e nos Açores.” Com esta promessa de voltar feita em voz alta, entramos em mais um ano com a esperança de voltar a terra outra vez. Nestes quarenta anos de América as oportunidades tem sido muitas e a vida tem sido generosa para esta pequena família que partiu um dia daquele pequeno cais la longe no meio do mar….
No comments:
Post a Comment